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O número de acidentes é muito maior que o registrado, diz especialista em saúde
Marta de Freitas, que trabalha com o tema há décadas, relata que novas doenças estão surgindo, principalmente as lesões por esforço repetitivo (LER)
04/08/2015


Especialistas em saúde do trabalhador costumam concordar que houve um avanço na geração de novos empregos nos últimos anos. No entanto, levantam questionamentos em relação ao tipo de ocupações que foram geradas e em relação à qualidade de vida dessas pessoas incorporadas ao mercado de trabalho.

Marta de Freitas, que trabalha com o tema há décadas, relata que novas doenças estão surgindo, principalmente as lesões por esforço repetitivo (LER) e sofrimentos mentais. Estatísticas que estariam sendo escondidas pelos planos de saúde contratados pelas empresas. Marta é coordenadora política de saúde do Estado de Minas Gerais, coordenadora do Fórum Sindical e Popular de Saúde e Segurança do trabalhador de Minas Gerais e engenheira de segurança do trabalho.

Brasil de Fato – Foram gerados muitos empregos nos últimos anos, mas você afirma que são empregos precarizados. Por quê?

Marta de Freitas - Por duas questões: são empregos de curta duração e baixos salários. A grande maioria dos empregos que se criaram foi de até dois salários mínimos, que ainda é insuficiente para a qualidade de vida do trabalhador e sua família. E também falta estabilidade no emprego. Foram gerados muitos empregos temporários, de curta duração. A rotatividade na construção civil, por exemplo, é de mais de 100%. Ou seja, o trabalhador fica 4 ou 5 meses na empresa e “roda”, perde o emprego. Não são gerados empregos rentáveis e duradouros.

E o que a precarização tem a ver com as doenças de trabalhadores?

Marta de Freitas - O Brasil tem uma séria dificuldade de fazer o diagnóstico das doenças relacionadas ao trabalho. Hoje, quando a gente analisa as estatísticas da previdência vemos principalmente dois tipos de adoecimento. Primeiro as lesões por esforços repetitivos [LER], doenças ósseo-musculares nas mãos, braços, colunas, porque o trabalhador ainda faz muito esforço, erra na postura, carrega peso. Mas vemos também um aumento significativo do adoecimento mental. Isso está muito ligado à qualidade de vida que essas pessoas têm, da insegurança e da pressão em perder o emprego. A administração no Brasil ainda trabalha com a “ditadura do medo”, uma ameaça constante do desemprego leva esse trabalhador a um sofrimento imenso. A gente vê ansiedade, depressões, tristeza e que vai culminando inclusive em suicídios. Temos relatos de suicídios na área de saúde, na polícia militar, em metalúrgicas. O setor bancário, então, explodiu.

Nas empresas terceirizadas há mais casos de doenças desse tipo?

Marta de Freitas - A desvalorização do trabalhador, a precarização, a humilhação, fazem com que a pessoa se sinta como um “trabalhador de terceira”, inclusive pelos colegas de trabalho. Ele é tratado como o “cara da terceirizada”, o que leva a uma autodesvalorização muito grande. E a rotatividade desses trabalhadores é tão alta que a gente não consegue ter dados mais concretos, a não ser nos casos de mortes. Hoje, a chance de um terceirizado morrer, segundo um estudo do Dieese, é de quase seis vezes mais que um trabalhador da empresa-mãe.

Algumas empresas divulgam como benéfico a contratação de planos de saúde privados. Esses convênios estão dando conta das novas doenças trabalhistas?

Marta de Freitas - O dia em que eles derem conta e começarem a informar o empregador que os trabalhadores estão adoecendo e que isso tem relação com o trabalho, a empresa vai mudar de plano de saúde. A gente tem relatos de colegas éticos que saíram desses planos de saúde porque notificaram que os trabalhadores estavam adoecendo e que deveria ser mudado o processo de trabalho. Ou seja, são profissionais que corretamente sugeriram mudanças, e a empresa pediu para o plano trocar de médico. A verdade é que os planos servem para ocultar os acidentes e as doenças do trabalho. A pessoa se acidenta, é atendida em um hospital “top”, mas não é emitida declaração de acidente de trabalho. Por isso percebemos que o número de acidentes é muito maior que o registrado, mas estão escondidos pelos planos de saúde.

O que o trabalhador pode fazer para melhorar esta situação?

Marta de Freitas - Só tem um caminho: ele acreditar no sindicato e o sindicato acreditar nele também. Todo processo hoje é de desvalorizar e desmerecer a entidade. Eu já ouvi empresários dizendo: “Para que você precisa do sindicato se nós lhe damos tudo? A empresa é uma mãe”. Será que é mesmo? Há todo um movimento contra o sindicato, a favor do individualismo, de que se consegue tudo sozinho. A gente defende o coletivo, o trabalho de grupo, a solidariedade. Agora, infelizmente, o trabalhador aparece no sindicato em duas situações: quando é demitido ou quando perdeu a saúde, quando se acidentou. Ou seja, quando o sindicato pouco pode fazer. Alguns sindicatos conseguem ainda ser a última porta de garantir direitos, mas muitos ainda não conseguem perceber que esse é um momento de fiscalizar direitos. E apesar de ser um atendimento individual, o sindicato pode recolher esses dados e montar uma pauta coletiva para aqueles que ainda não saíram.

 

 

Fonte: Brasil de Fato

 

 
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